A História de um regato

Em 1869, o geógrafo francês Élisée Reclus publicou o livro "História de um regato" (Histoire d’un ruisseau)., que descreve a vida de um curso d'água, desde sua nascente até chegar ao mar.  Um dos capítulos  descreve sua passagem pela cidade. O texto é muito bonito, na sua trágica atualidade. São quatro páginas que valem o esforço. Como diz Murilo Lisboa, que fez a tradução para esta página, chama a atenção a fé que o autor deposita na potencialidade do homem vir a usar a ciência para ressuscitar o pobre regato.

 


CAPÍTULO XVIII

A ÁGUA NA CIDADE

 

 

    Nos nossos países da Europa civilizada, onde o homem intervém em tudo para modificar a natureza a seu gosto, o pequeno curso d’água deixa de ser livre e torna-se coisa dos ribeirinhos. Usado ao gosto desses, seja para regar suas terras, seja para moer o trigo; no entanto, seguidamente, eles também não sabem utilizá-lo de forma útil; eles o aprisionam entre os muros mal construídos que a correnteza de suas águas demole; versam as águas para zonas onde elas se tornam poças pestilentas; enchem de lixo que deveriam servir de adubo para seus campos; transformam o alegre regato em um imundo esgoto.

   Aproximando-se da zona industrial, o regato se emporcalha de mais em mais. As águas domésticas das casas às suas margens se misturam a sua corrente; viscosidades de todas as cores alteram sua transparência, impuros fragmentos recobrem suas praias enlodaçadas, e, quando o sol as secam, um odor fétido impregna a atmosfera. Então, o regato transfigurado em cloaca adentra a cidade, onde seu primeiro afluente é um esgoto horrendo, com uma enorme boca oval, fechada com grades. Quase sem correnteza, por causa da ausência de queda, a massa pastosa rola lentamente entre duas fieiras de casa de muralhas recobertas de algas esverdeadas, madeirames metade roídos pela umidade e rebocos que caem em escamas. Para estas casas, usinas doentias onde trabalham os homens do curtume e tanino e outros industriosos, essa corrente enlamaçada é ainda uma riqueza e sem cessar os trabalhadores utilizam essas águas nauseabundas. O beira-rio perdeu toda a forma natural; são agora muros perpendiculares onde, aqui e acolá, constroem-se degraus de escadas; as margens são pavimentadas de lajes escorregadias; os meandros são trocados por bruscas curvas; no lugar de galhos e folhagens, roupas sórdidas suspensas em varais se balançam sobre a fossa, e barreiras em pranchas, jogadas de um cais a outro, marcam os limites das propriedades sobre o fluxo encardido. Enfim, a massa pastosa penetra sob uma sinistra arcada. O regato que eu vi nascer sob a luz, tão límpido e alegre, fora da fonte natal não é mais senão um esgoto no qual uma cidade lança seu lixo.

        Poucos quilômetros de intervalo, o contraste é absoluto. Acima, no campo livre, a água cintila ao sol, e transparente, apesar da profundidade, deixa ver os seixos brancos, a areia e as ervas tremulantes no seu leito; ela murmura docemente entre as ninféias; os peixes se lançam pelas correntes como flechas de pratas e os pássaros tocam suas asas em rasantes. Flores nascem em tufos sobre as margens, as árvores cheias de seiva estendem distante seus galhos e aquele que caminha passeando nas margens pode a seu gosto descansar na sua sombra contemplando o gracioso quadro que se alonga entre dois meandros. Que diferença do regato sob o pavimento ressoante da cidade! A água que é a mesma na sua substância, mas só para o químico;  ela está misturada a tantas imundíces que se tornou viscosa. Não há mais luz  na sombria avenida, se não fosse de tempos em tempos um raio de luz que passa entre duas barras de ferro repercutindo na parede viscosa. A vida parece ausente nestas trevas; no entanto ela existe: cogumelos alimentados pela podridão brotam nas quinas; os ratos se escondem nos buracos, entre pedras deslocadas. Os únicos passantes que se aventuram nesta triste estadia são os que trabalham no esgoto para restabelecer o fluxo, retirando o entulho de lama, e os “devastadores”, famélicos industriais,  pendurados sobre a papa fétida, a remoendo com as mãos para encontrar as mínimas moedas ou outro objeto caídos da rua pelos suspiros.
 
      
         Enfim, a massa infecta ajudada, seja pelo ancinho dos trabalhadores, seja pelos súbitos aguaceiros, chega ao rio e aí se derrama pesadamente. Negra ou violácea, ela escala o longo do cais, permanece distinta da água relativamente pura da corrente por uma linha sinuosa, nitidamente traçada. Demoradamente a seguimos com os olhos escorrendo ao lado do rio, se recusando a se misturar com ele; mas os turbilhões, os remoinhos, os refluxos de todos os tipos causados pelas desigualdades do fundo e as sinuosidades das margens têm como resultado a mistura das águas; a linha de separação se apaga pouco a pouco, grandes nódoas transparentes surgem do fundo através da massa enlamaçada; os impuros aluviões, mais pesados do que a água que carregam, se depositam sobre as praias e as depressões do leito. O regato se purifica cada vez mais; mas ao mesmo tempo ele deixa de ser ele mesmo e se perde na potente massa líquida do rio que o conduz para o oceano. Sua corrente se divide em fatias, e essas são divididas em gotas, todas as moléculas se confundem. A história do regato termina, ao menos nas aparências.

                No entanto, a boca do grande esgoto não vomitou no rio toda massa de água que rolava entre as margens sombreadas aquém da cidade e suas fábricas. Enquanto uma parte da corrente continua seguindo o leito natural, transformada em vala, depois em canal subterrâneo, pela mão do homem, para se arrastar pesadamente pela linha do cais, uma outra parte do regato, desviado de seu curso normal,  entra em um grande aqueduto e é encaminhado para a cidade seguindo o flanco de colinas, e passando por enormes sifões sob as ravinas. A água, protegida da evaporação pelas paredes de pedra ou de metal que a cercam, recebe na sua entrada da cidade um grande reservatório de alvenaria, tipo de lago artificial onde o líquido repousa e se depura. É deste lugar que escapa para se distribuir, de bairro em bairro, de rua em rua, de casa em casa, de andar em andar, pelos canos ramificados ao infinito sobre a imensa superfície habitada. A água é sempre indispensável; é necessário para limpar o chão e as moradias; é necessário para hidratar todos os seres vivos, do homem aos animais que o servem, até a flor mais modesta que  se  abre nas janelas das mansardas e o gramado que recebe o rocio da bruma irisada das fontes. Por seus milhões e bilhões de bocas e de poros absorvendo incessantemente capilares, pingos ou simples umidade originárias do regato, a cidade torna-se semelhante a um imenso organismo, um monstro prodigioso engolindo torrentes de um só gole. Há cidades que não se contentam  apenas com um regato, bebem ao mesmo tempo vários, recorrendo por todos os lados aos aquedutos que convergem. Uma capital - a verdade é que esta capital é Londres, a cidade mais populosa do mundo - não bebe menos que meio milhão de metros cúbicos por dia, o suficiente para encher um lago onde boiaria facilmente cem navios de bordo alto.

 
             Depois de se ramificar ao infinito nas ruas e casas, a água dos aquedutos, já suja pelo uso e mistura com as impurezas de todos os tipos, deve retomar seu caminho para fugir da cidade onde ela engendraria a peste. Cada paralelepípedo, como uma boca imunda, vomita água doméstica, cada bica escorre sua pequena torrente nauseabunda; a cada quina de rua uma cascata vermelha ou negra se precipita nos meios-fios. Este manancial, único regato que a criança das nossas cidades pode  estudar, contribui em muito mais do que se pensa em fazê-lo amar a natureza. Recordo-me ainda: quando nos aguaceiros que haviam limpado os detritos  e lama das canaletas e preenchido seu leito até o bordo, nós construíamos nossas barragens, fechávamos a correnteza em desfiladeiros, fazíamos a água se precipitar em corredeiras, concebíamos a nosso gosto ilhas ou penínsulas. Adultos, os pequenos engenheiros que chafurdavam com tanto júbilo nas bicas não deixam de lembrar-se com prazer de suas brincadeiras de criança. Apesar da situação, olham com alguma emoção o fio d´água encardida que escorre ao longo da calçada. Desde a mais tenra idade, no espaço de uma geração, só fragmentos levados pela corrente viscosa encontraram o caminho para o mar! E o sangue de cidadãos que se misturou a esta lama.

As impurezas,  de todas as calhas laterais, irão se encontrar com o grande esgoto, que constantemente é o leito do antigo regato, de forma que a cidade se parece com os pólipos que têm um único orifício que se abre ao mesmo tempo para os alimentos e para os dejetos. No entanto, na maior parte de nossas avenidas subterrâneas em nossas cidades, houve o cuidado de estabelecer uma separação entre esses dois fluxos. Tubos de ferros justapostos servem de leito a dois riachos que escorrem em sentido inversos: um é  o fluxo de água pura que irá se ramificar nas moradias, o outro será a massa de água suja que escapa. Como no corpo do animal, as artérias e as veias se acompanham: um círculo ininterrupto se forma entre a corrente que carrega a vida e aquele que trará a morte.

       Infelizmente, o organismo artificial das cidades está longe de parecer na perfeição aos órgãos naturais dos corpos vivos. O sangue venoso, caçado do coração para os pulmões, se renova em contato com o ar; se desembaraça de todos os produtos impuros da combustão interior e, recebendo de fora o alimento de sua própria chama, pode começar sua viagem do coração às extremidades, e levar o calor e a vida de artéria em artéria. Nas nossas cidades, ao contrário, corpos informes talham a organização, a água usada continua a escorrer nos esgotos e vai poluir os rios, onde ela não se purifica senão lentamente, sem ser retomada pela indústria humana para alimentar a cidade na circulação subterrânea. Mas essa depuração que a ciência do homem se engana em não complementar, as forças da natureza trabalham em harmonia com os habitantes das águas. Em todas as bocas de esgoto onde não se mergulha sem cessar o ávido anzol do pescador, uma multitude de peixes, amontoados muitas vezes em bancos, como arenques do mar, se refartam voluptuosamente com os restos dos festins carregados pela torrente enlameada; o limo das muralhas e das margens, as ervas tremulantes no fundo retêm também e fazem entrar na sua substância as moléculas da calda que as banham; os fragmentos mais pesados descem e se misturam aos gravetos, naufrágios são rejeitados sobre o bordo onde estancam em bancos de areia; pouco a pouco a água se clarifica, graças à fauna e à flora, que se desembaraça das substâncias dissolvidas que a desnaturalizariam, e se no seu curso ela não fosse suja de novo por outras impurezas que escorre de cidades ribeirinhas, findaria por retomar sua pureza primitiva antes de alcançar o oceano.

         
Na cidade do futuro, o que a ciência aconselha será também o que os homens farão. Já um número de cidades, sobretudo na inteligente Inglaterra, tentam criar um sistema arterial e venoso funcional com uma regularidade perfeita, religados um a outro, de forma a completar um pequeno circuito das águas, análogo àquele que se produz na grande natureza entre as montanhas e o mar pelas fontes e nuvens. Na saída das cidades, as águas de esgoto, aspiradas por máquinas, como o sangue o é pelo jogo dos músculos, se dirigirão para um grande reservatório coberto, onde o lixo levado será misturado em um líquido lodoso. Então, outras máquinas se encarregarão da massa fétida e a lançarão em jatos nos tubos radiais, em diversas direções, sob o solo dos campos. Aberturas, providenciadas de distância em distância sobre os aquedutos, permitirão transvasar o todo em quantidades mesuráveis sobre todos os campos empobrecidos que necessitam regenerar através do adubo. Esta vasa que escorre e que seria a morte de populações se se estabecesse nas cidades ou se escorregasse para os rios ao longo das margens, se torna, então, o contrário, a vida das nações, pois se transforma no alimento para os homens. O mais infértil dos solos e mesmo a pura areia dariam nascimento a uma vegetação luxuriante quando bebessem este líquido; por outro lado, a águam, que servia de veículo para todas as imundícies do esgoto, se encontraria limpa pelas operações químicas das raízes; recolhida subterraneamente para os canos paralelos aos aquedutos de água suja, ela poderia entrar na cidade para depurá-la e provisionar, ou então deixar verter nos rios sem que turve a corrente límpida. Enquanto que antes, além da primeira cidade no qual ele molhava o cais, o rio não era senão um canal de esgoto até o oceano, ele retomaria em nossos dias sua beleza dos tempos passados; os edifícios das cidades e os arcos das pontes, que durante séculos não se fazem refletir senão sobre uma onda turva, recomeçariam a se mirar em um fluxo transparente.

 

CHAPITRE XVIII

L’EAU DANS LA CITÉ


    Dans nos pays de l’Europe civilisée où l’homme intervient partout pour modifier la nature à son gré, le petit cours d’eau cesse d’être libre et devient la chose de ses riverains. Ils l’utilisent à leur guise, soit pour en arroser leurs terres, soit pour moudre leur blé ; mais souvent aussi, ils ne savent point l’employer utilement ; ils l’emprisonnent entre des murailles mal construites que le courant démolit ; ils en dérivent les eaux vers des bas-fonds où elles séjournent en flaques pestilentielles ; ils l’emplissent d’ordures qui devraient servir d’engrais à leurs champs ; ils transforment le gai ruisseau en un immonde égout.

En approchant de la grande ville industrielle, le ruisseau se souille de plus en plus. Les eaux ménagères des maisons qui le bordent se mêlent à son courant ; des viscosités de toutes les couleurs en altèrent la transparence, d’impurs débris recouvrent ses plages vaseuses, et lorsque le soleil les dessèche, une odeur fétide se répand dans l’atmosphère. Enfin, le ruisseau, devenu cloaque, entre dans la cité, où son premier affluent est un hideux égout, à l’énorme bouche ovale, fermée de grilles. Presque sans courant, à cause du manque de pente, la masse boueuse roule lentement entre deux rangées de maisons aux murailles recouvertes d’algues verdâtres, aux boiseries à demi rongées par l’humidité, aux enduits tombant par écailles. Pour ces maisons, usines malsaines où travaillent les mégissiers, les tanneurs et autres industriels, le courant vaseux est encore une richesse, et sans cesse les ouvriers y vont puiser l’eau nauséabonde. Les berges ont perdu toute forme naturelle ; ce sont maintenant des murailles perpendiculaires où sont ménagées çà et là quelques marches d’escaliers ; les rivages sont pavés de dalles glissantes ; les méandres sont remplacés par de brusque tournants ; au lieu de branches et de feuillages, des vêtements sordides suspendus à des perches se balancent au-dessus de la fosse, et des barrières en planches, jetées d’un quai à l’autre quai, marquent les limites des propriétés au-dessus du flot noirâtre. Enfin, la masse boueuse pénètre sous une sinistre arcade. Le ruisseau que j’ai vu jaillir à la lumière, si limpide et joyeux, hors de la source natale, n’est plus désormais qu’un égout dans lequel toute une ville déverse ses ordures.

À quelques kilomètres d’intervalle, le contraste est absolu. Là-haut, dans la libre campagne, l’eau scintille au soleil, et transparente, malgré sa profondeur, laisse voir les cailloux blancs, le sable et les herbes frémissantes de son lit ; elle murmure doucement entre les roseaux ; les poissons s’élance à travers le flot comme des flèches d’argent et les oiseaux le rasent de leurs ailes. Des fleurs naissent en touffes sur ses bords, des arbres pleins de sève étalent au loin leur branchage, et le promeneur qui suit la rive peut à son aise se repose à leur ombre en contemplant le gracieux tableau qui s’étend entre deux méandres. Combien différent est le ruisseau sous le pavé retentissant des villes ! L’eau est bien la même en substance, mais seulement pour le chimiste ; elle est mélangée de tant d’immondices qu’elle en est devenue visqueuse. Plus de lumière dans la sombre avenue, si ce n’est de distance en distance un rayon qui passe entre deux barreaux de fer et se répercute sur la paroi gluante. La vie semble absente de ces ténèbres ; elle existe pourtant : des champignons, nourris de pourriture, se blottissent dans les coins ; des rats se cachent dans les trous, entre les pierres descellées. Les seuls promeneurs qui s’aventurent dans ce triste séjour sont les égoutiers chargés de rétablir le courant en enlevant les amas de fange, et les « ravageurs », faméliques industriels, qui, perchés sur le bourbier fétide, le remuent de leurs mains pour y trouver quelque menue monnaie ou d’autres objets tombés de la rue par les soupiraux.

Enfin, la masse infecte, aidée soit par le râteau des ouvriers, soit par de soudains orages, arrive à la rivière et s’y déverse lourdement. Noire ou violacée, elle rampe le long des quais, et reste distincte de l’eau relativement pure du courant par une ligne sinueuse nettement tracée. Longtemps on la suit du regard, s’écoulant à côté de la rivière et refusant de se mêler avec elle ; mais les tourbillons, les remous, les reflux de toute espèce causés par les inégalités de fond et les sinuosités des rives ont pour résultat de mélanger les eaux ; la ligne de séparation s’efface peu à peu, de gros bouillons transparents surgissent du fond à travers la masse boueuse ; les impures alluvions, plus pesantes que l’eau qui les entraîne, se déposent sur les plages et dans les dépressions du lit. Le ruisseau se purifie de plus en plus ; mais en même temps, il cesse d’être lui-même et se perd dans la puissante masse liquide de la rivière qui l’emporte vers l’océan. Son courant se divise en filets, ceux-ci sont partagés à leur tour en gouttes et en gouttelettes, toutes les molécules se confondent. L’histoire du ruisseau vient de finir, du moins en apparence.

Cependant la bouche du grand égout n’a point vomi dans le fleuve toute la masse d’eau qui roulait entre les berges ombreuses en amont de la ville et de ses fabriques. Tandis qu’une partie du courant continue de suivre le lit naturel, transformé en fossé, puis en canal souterrain par la main de l’homme, et va se traîner lourdement le long des quais, une autre partie du ruisseau, détournée de son cours normal, est entrée dans un large aqueduc et s’est dirigée vers la cité en suivant le flanc des collines et en passant par d’énormes siphons au-dessous des ravins. L’eau, protégée contre l’évaporation par les parois de pierre ou de métal qui l’entourent, emplit à son entrée dans la ville un vaste réservoir maçonné, sorte de lac artificiel où le liquide se repose et s’épure. C’est le là qu’il s’échappe pour se distribuer, de quartier en quartier, de rue en rue, de maison en maison, d’étage en étage, par des conduites ramifiées à l’infini, sur l’immense surface habitée. L’eau est partout indispensable ; il en faut pour nettoyer les pavés et les demeures ; il en faut pour abreuver tous les êtres vivants, depuis l’homme et les animaux qui le servent jusqu’à la fleur modeste qui s’épanouit à la fenêtre des mansardes et un gazon qu’arrose le brouillard irisé des fontaines. Par ses millions et ses milliards de bouches et de pores absorbant incessamment veinules, gouttelettes ou simple humidité dérivées du ruisseau, la cité devient comme un immense organisme, un monstre prodigieux engloutissant des torrents d’un seul trait. Il est des villes qui ne se contentent pas d’un ruisseau et qui en boivent à la fois plusieurs, accourant de tous les côtés par des aqueducs convergents. Une capitale, - il est vrai que cette capitale est Londres, la cité la plus populeuse du monde entier, - ne boit pas moins d’un demi-million de mètres cubes par jour, assez pour emplir un lac où flotteraient à l’aide cent navires de haut bord.

Après s’être ramifiée à l’infini dans les rues et les maisons, l’eau des aqueducs, désormais salie par l’usage et mélangée aux impuretés de toute sorte, doit reprendre son chemin pour s’enfuir de la ville où elle engendrerait la peste. Chaque dalle, comme une bouche immonde, vomit des eaux ménagères ; chaque rigole coule son petit torrent nauséabond ; à chaque angle de rue, une cascade rouge ou noirâtre se précipite dans un puisard. Ce flot impur, seul ruisseau que puisse étudier le gamin de nos cités, contribue, plus qu’on ne pense, à lui faire aimer la nature. Il m’en souvient encore : lorsque des averses abondantes avaient enlevé la vase de la rigole et rempli le lit jusqu’aux bords, nous construisions nos barrages, nous enserrions le courant dans un défilé, nous le faisions se précipiter en rapides, nous formions à volonté des îles ou des péninsules. Devenus hommes, les petits ingénieurs qui pataugeaient avec tant de jubilation dans la rigole ne peuvent se rappeler sans plaisir leurs jeux d’enfance ; malgré eux ils regardent avec une certaine émotion le filet d’eau bourbeuse qui se traîne le long du trottoir. Depuis leurs jeunes années, dans l’espace d’une génération, que de débris entraînés sur ce courant visqueux ont trouvé leur chemin vers la mer ! Jusqu’au sang des citoyens qui s’est mêlé à cette boue !


De toutes les rigoles latérales les impuretés vont rejoindre le grand égout, qui souvent est le lit de l’ancien ruisseau lui-même, de sorte que la ville ressemble à ces polypes dont l’unique orifice s’ouvre à la fois à la nourriture et aux déjections. Toutefois, dans la plupart des avenues souterraines de nos cités, on a eu soin d’établir une certaine séparation entre les deux courants. Des tubes de fer juxtaposés servent de lit à deux ruisselets coulant en sens inverse : l’un est le flot d’eau pure qui va se ramifier dans les maison, l’autre est la masse d’eau souillée qui s’en échappe. Comme dans le corps de l’animal, les artères et les veines s’accompagnent ; un cercle non interrompu se forme entre le courant qui porte la vie et celui qui donnerait la mort.

Malheureusement, l’organisme artificiel des cités est encore bien loin de ressembler pour la perfection aux organes naturels des corps vivants. Le sang veineux, chassé du cœur dans le poumon, s’y renouvelle au contact de l’air : il se débarrasse de tous les produits impurs de la combustion intérieure et, recevant du dehors l’aliment de sa propre flamme, il peut recommencer son voyage du cœur aux extrémités, et rouler la chaleur et la vie d’artère en artériole. Dans nos cités, au contraire, corps informes où s’ébauche l’organisation, l’eau souillée continue de couler dans les égouts et va polluer les fleuves, où elle ne se purifie que lentement, sans être reprise par l’industrie humaine pour alimenter la ville en entrant dans la circulation souterraine. Mais cette épuration, que la science de l’homme a le tort de ne pas accomplir, les forces de la nature y travaillent de concert avec les habitants des eaux. À toutes les bouches d’égout où ne plonge pas sans cesse l’avide hameçon du pêcheur à la ligne, des multitudes de poissons, entassés parfois en véritables bancs comme les harengs de la mer, se repaissent avec volupté des restes de festins apportés par le torrent boueux ; les limons des murailles et des berges, les herbes frémissantes du fond retiennent aussi et font entrer dans leur subsistance les molécules de fange qui les baignent ; les débris les plus lourds descendent et se mêlent au gravier, les épaves sont rejetées sur le bord ou s’arrêtent sur les bancs de sable ; peu à peu, l’eau se clarifie ; grâce à sa faune et à sa flore, elle se débarrasse même des substances dissoutes qui la dénaturaient, et si dans son cours elle n’était pas souillée de nouveau par d’autres impuretés découlant des cités riveraines, elle finirait par reprendre sa pureté première avant d’atteindre l’océan.

Dans la ville future, ce que la science conseille sera aussi ce que feront les hommes. Déjà nombre de cités, surtout dans l’intelligente Angleterre, essayent de se créer un système artériel et veineux fonctionnant avec une régularité parfaite et se rattachant l’un à l’autre, de manière à compléter un petit circuit des eaux, analogue à celui qui se produit dans la grande nature entre les montagnes et la mer par les sources et les nuages. Au sortir de la ville, les eaux d’égout, aspirées par des machines, comme le sang l’est par le jeu des muscles, se dirigeront vers un large réservoir voûté où les ordures entraînées se mêleront en un liquide fangeux. Là, d’autres machines s’empareront de la masse fétide et la lanceront par jets dans les conduits rayonnant en diverses directions sous le sol des campagnes. Des ouvertures pratiquées de distance en distance sur les aqueducs permettront d’en déverser le trop-plein en quantités mesurées sur tous les champs appauvris qu’il faut régénérer par les engrais. Cette fange coulante, qui serait la mort des populations, si elle devait séjourner dans les villes ou se traîner dans les fleuves le long des rivages, devient au contraire la vie même des nations, puisqu’elle se transforme en nourriture pour l’homme. Le sol le plus infertile et jusqu’au sable pur donnent naissance à une végétation luxuriante lorsqu’ils sont abreuvés de ces liquides ; de son côté, l’eau, qui servait de véhicule à toutes les souillures de l’égout, se trouve désormais nettoyée par les opérations chimiques des racines et des radicelles ; recueillie souterrainement dans les conduits parallèles aux aqueducs d’eau sale, elle peut rentrer dans la ville pour la nettoyer et l’approvisionner, ou bien couler dans le fleuve sans en ternir le courant limpide. Tandis qu’autrefois, au dessous de la première ville dont elle baignait les quais, la rivière n’était plus jusqu’à l’océan qu’un immense canal d’égout, elle reprend de nos jours sa beauté des temps anciens ; les édifices des cités et les arches des ponts, qui pendant des siècles ne se sont reflétés que sur une onde troublée, recommencent à se mirer dans un flot transparent.