N.S. Aparecida | Guadalupe |
Virgem
do Apocalipse |
Lua crescente |
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Quem por ventura já examinou as
representações do sagrado na religião
católica nota a força do culto de Maria, a
Mãe de Deus, Nossa Senhora, a Virgem Maria. O culto é
tão forte que os protestantes o criticavam, chamando de
"marianismo". Os católicos, por sua vez, têm
um tema de estudo que é a mariologia. Os vínculos desse culto com os vários cultos mediterrâneos de deusas é bem forte. Para focalizar um símbolo, a virgindade, muitas deusas gregas eram virgens. Palas Atena e Artemis são bons exemplos, com denominações e características um pouco diferentes de cidade a cidade.. As imagens de Nossa Senhora também carregam essa variabilidade. O tema desta página é uma das suas representações, a mulher com os pés sobre a lua crescente, que recebe o nome de Nossa Senhora da Conceição. Essa é a mais frequente denominação de Nossa Senhora no Brasil . Algumas das mais belas imagens barrocas brasileiras usam essa representação. O teto da Igreja de São Francisco (foto ao lado), em Ouro Preto, atribuído a Manoel Athaíde, mostra a lua numa posição incomum, mas seguramente associada a posição em que a vemos, no teto da igreja. |
Mas quando essa "imagem literária" se transforma
numa
representação plástica? Passei vários
meses de 2003 acalentando uma hipótese que depois mostrou-se
equivocada: a mais antiga representação
que encontrei de Maria com os pés sobre a lua parecia ser de
1531, é
uma "imagem milagrosa", uma imagem que surge pintada na roupa de um
mexicano
chamado Cuautitlan, a famosa Virgem
de Guadalupe. A história é muito boa. Apenas 10 anos após a conquista do México por Cortez, naquela história em que uns poucos espanhóis a cavalo venceram milhares de aztecas e espalharam doenças que mataram milhões, a cidade de Tenotchitlán foi destruída e suas pedras usadas na construção da Cidade do México, que já tinha suas igrejas, seu bispo franciscano. A evangelização dos locais vai à toda. Nesse momento histórico, conta a história que a Virgem aparece a um índio mexicano e lhe pede que convença o bispo a construir uma igreja num morro, nas proximidades da cidade. Na terceira tentativa de convencimento, o índio recolheu em sua roupa umas flores muito especiais e, quando a abriu para mostrar ao bispo, apareceu a imagem ao lado, pintada em sua túnica. O bispo reconhece o milagre nessa pintura de uma mulher com um manto estrelado, de mãos postas, de pé sobre a lua crescente, inserida numa concha de raios, sobre um anjo alado. Pouco depois foi iniciada a construção da igreja. O índio, mais conhecido pelo seu nome espanhol Juan Diego, foi canonizado em julho de 2002.
Consta
que essa história foi registrada ainda no século
XVI,
na língua Nahuatl, por um índio chamado Antonio
Valeriano.
Esse texto, conhecido como Nican Mopohua, ou Huei Tlamahuitzoltica, está
perdido.
Há quem diga que foi levado por um general americano. Conhece-se
uma
cópia de 1649, também em Nahuatl, feita por Luis Lasso de
la
Vega. Nesse texto
de 1649 , a palavra Imaculada é mencionada uma vez.
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Meses
buscando referências sobre a Mulher
com os Pés sobre a Lua e, de repente, encontro uma
página sobre a Mulher Vestida
de Sol, exatamente sobre o mesmo tema! Coisas que só a
Internet permite descobrir. Eu vinha buscando imagens da Conceição, com a tese de que a Guadalupe seria a primeira, que essa seria uma imagem "americana" do dogma da Imaculada Conceição, e encontrei vários sites de Mariologia. Repetia a pergunta onde podia, e um padre da Universidade de Dayton disse que a imagem da Mulher com os Pés sobre a Lua seria do século XV (e, portanto, anterior a Guadalupe), mas não tinha as evidências. Mencionou que uma delas seria de Erfurt, e eu saí a campo. Esbarrei na página de um fotógrafo americano, Gary Regester, que reuniu os ícones abaixo. Ele juntou essas imagens para orientar uma pintora da Ilha de Patmos, na Grécia, a pintar um quadro que ele queria. O vínculo de Gary é com São João, pois ele conheceu a pintora durante as festividades dos 1900 anos da passagem de S. João por aquela ilha. Numa caverna daquela ilha, João escreveu o Apocalipse. |
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Imaculada Conceição . E como ocorre a identificação Imaculada Conceição-Virgem do Apocalipse? . A Enciclopédia Católica inglesa investe muitas páginas na discussão da evolução histórica do dogma da Imaculada Conceição. A expressão Imaculada Concepção de Maria não se refere à concepção de Jesus por Maria. Refere-se ao conceito de que a Mãe de Deus não poderia ter sido concebida com o pecado original e, portanto, sua concepção, no ventre de sua mãe Ana, ocorreu sem pecado. Chegou-se a discutir se a suspensão do Pecado Original, esse que todos os humanos carregam desde Adão, teria ocorrido antes ou depois da inseminação física, propriamente dita. (veja em http://www.newadvent.org/cathen/07674d.htm ). O assunto esteve em discussão por muitos séculos e, no final do século XV várias reuniões foram realizadas para discuti-lo. Torquemada, aquele posteriormente famoso por sua ação feroz na Inquisição, escreveu um Relatório em 1473 defendendo o conceito. Ainda assim, falta a ligação entre a imagem e o conceito. Vimos que a imagem foi criada sem esse vínculo. Para viabilizar Há quem diga que, como não há símbolo capaz de representar esse mistério da Imaculada Conceição, era necessário buscar uma imagem dissociada. E lá estava a Virgem do Apocalipse entrando na moda, vinda do Norte!
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![]() William Blake, poeta e ilustrador ingles do século XIX, um romântico de carteirinha, desenhor a Mulher e o Dragão vermelho, mas com a lua a seus pés! Woman and the Red Dragon, William Blake, 1805, National Gallery, D.C.; Ao lado, outra imagem do norte europeu, também do século XV. The Glorification of the Virgin, Geertgen tot Sint Jans, ca. 1480, Museum Boymans-van Beuningen, Rotterdam;
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![]() É verdade que existem imagens mais antigas associando a Mulher e a Lua, mas a Mulher sobre a Lua parece mesmo surgida no século XV. Venus de Laussel, Dordogne, 20,000 BC, Musee d'Aquitaine, Bordeaux, France; Sumerian "Lilith", ca. 2000 BC, British Museum; O culto de Isis:
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![]() Female Figure of Late Spedos Type, Early Cycladic II, ca. 2400 BC, JP Getty Museum, Los Angeles; Artemis and her lion, c. fifth century BC, British Museum; 3 Die schoene Artemis from the Temple of Artemis, Ephesus, Selchuk Museum, Turkey; |
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Referencias mencionadas por Gary: |
Um problema menor: O nome daquela lua: Lua Crescente ou lua nova?
Todo mundo chama aquela lua fininha de Crescente. Até o
croissant associa forma e nome. Entretanto, aquela é a Lua Nova.
É só olhar para o céu dois dias depois que
seu calendário avisar que começou a fase da Lua
Nova. O Quarto Crescente inicia-se quando a lua está já
meio cheia.
Entretanto, mesmo o Aurélio assim a define:
Crescente, segundo o
Aurélio: 5a
acepção: forma aparente da lua durante o quarto
crescente, quando apresenta iluminada menos da metade do seu
hemisfério. 7a acepção: Armas e
estandarte do antigo império turco.