Bloomsday
A festa anual dos que leram Ulysses, de James Joyce.
Leopold Bloom, passou o dia 16 de junho de 1904 evitando voltar para casa, na rua Eccles, em Dublin, numa Irlanda ainda parte do Reino Unido. Noitada a dentro, passa pela zona tentando tomar conta do filho que não teve - o jovem Stephen Dedalus - onde enfrenta o espectro de seu pai, um judeu húngaro. Termina sua jornada na cama, com sua mulher Molly.
Parece apropriado como livro sagrado de alguma nova religião?
Para alguns, esse é o caráter do dia 16 de Junho, o dia de Bloom.
Os prosélitos reúnem-se mundo afora, convenientemente disfarçados de fãs da literatura irlandesa.
Fé incômoda. As conversões religiosas tardias são muitas vezes associadas a experiências místicas que prescindem de explicações. No meu caso é uma conversão contra a vontade, é uma pulsão que faz questão de ignorar meu ateísmo. Faz tempo que isso incomoda.
Em 1990, na Alemanha, eu escrevi "Ulisses. Anos em busca do significado, porque gostei, porque não li o capítulo Circe. Acompanhar Bloom, pelas ruas de Dublin. Mas Joyce escreveu aquele catatau prá contar isso. Um dia na vida de um medíocre irlandês." Em julho de 2002, em Jijoca de Jericoacoara, escrevi:
"Por que leio Ulisses? Especialistas como Eco são capazes de ver o que há de revolucionário nele, eu não. Então, o que me atrai? A complexidade? A impenetrabilidade? Ler algo que não entendo? Seria essa a experiência mística, o Mistério?
É possível imaginar uma civilização usando Ulisses como livro sagrado. Bloom tem lá suas características de Salvador. Bloom é um herói. Os judeus não aceitaram Jesus como o Messias por que ele era meio frouxo. Teve seus momento de raiva, mas inventou aquela do "ir para o sacrifício". Não foi Nietzsche quem considerou o cristianismo uma religião paar seres inferiores? Realmente, Cristo também é um anti-herói. Então Bloom é um novo Cristo. Mais um judeu com vocação de anti-herói."
Faz parte da mística do livro tratá-lo como uma imensa construção de significados deliberadamente superpostos. Vários "Guias de leitura" já foram publicados. Para "ajudar" a leitura, seus capítulos são associados aos da Odisséia de Homero, as outras associações com órgãos do corpo humano, artes, cores, símbolos e técnicas, foram divulgadas por Stuart Gilbert como sendo chaves apresentadas pelo próprio Joyce, levando Antonio Houaiss, seu tradutor, a incorporá-las à obra, coisa que Joyce nunca fez.
É claro que tem o prazer de decifra-lo aos pouquinhos, descobrir as piadas escondidas, rir das
Quem me apresentou à idéia de comemorar o Bloomsday foi Guina Medici, em 1985. Desde então, religiosamente, comemoramos esse grande dia. Guina colocou a efeméride no calendário cultural de Santa Maria, RS, e prepara anualmente um belíssimo flier . Uma ou outra vez eu arrisco reportar a comemoração.
http://lmmm.ccne.ufsm.br/users/guina/trivia.html#bloomsday