Poemas de Zequinha Gomes

 

Náufragos da vida

 

Arrojos que se vão sobre as ondas boiando...

Almas que o mar da vida arrebata nas vagas,

e que sem rumo vão, como doudas, errando,

longe da encosta ideal e das saudosas plagas.

 

Farrapos de esperança, andrajos de alma aflita,

Velhas ruínas de nau – final de ledo engano-

Sonhos, aspirações – tudo se precipita,

Vai abismar-se por fim, nas entradas do oceano.

 

Um momento fugaz a humanidade avança...

Depois, grotescamente, essa eterna criança

Desanimada cai, como o barco que aderna.

 

Coragem, ilusões, anseios e esperanças

Soçobraram... E, por sobre as últimas lembranças

Passa a onda do tempo a esponja imensa e eterna....

 

José Alfredo Gomes

Publicada em Acaiaca- Revista de Cultura, 1951



No verso de uma foto sua com uns 25 anos (por volta de 1910),
que estava de posse das suas primas Rocha,
e que Flora Rocha deu para minha mãe,
Zequinha escreve a dedicatória:

"Si pudesse o espírito"... vadio
"ver através da máscara da  face"
Tu, através deese meu ar sombrio
Certo não vias mal que te apiedasse.

Essas rugas na fronte, esse atavio
de tristeza que vês, tudo é falace
O romântico spleen que finjo, nasce
de um simples film de que eu mesmo rio

Tens pois aqui, a explicação sincera,
A origem do semblante carregado
de quem tanto te estima e considera

Aceita essa lembrança e fica certo:
em baixo desse hostil rosto fechado
tens, meu amigo, um coração aberto.
 
 
À TUA ESPERA
 
Há tanto tempo estou à tua espera!
Meu coração só clama o  teu amor!
Foi-se o estio,aí vem a primavera,
E a primavera é cheia de esplendor.
 
Minh'alma triste,às vezes se exaspera
Cuidando que não ouves meu clamor
Mas logo diz meu coração:__espera,
Um grande amor é sempre um grande amor.
 
Aqui te espero,encanto dos meus olhos,
Pois quero me ver livre dos abrolhos
E livre desta negra e amarga dor.
 
Quando chegares,que felicidade!
Então,repetirei com suavidade:
Um grande amor é sempre um grande amor!

revista Acaiaca, encontrada por Flávia Rosa Faria Noronha.