Biografia de José Alfredo Gomes

 

publicada no jornal O Sul de Minas

de 08 de dezembro de 1984

 

na coluna Fastos e perfis do Sul de Minas

 

Centenário de José Alfredo Gomes (Zequinha Gomes)

 

autor: Armelim Guimarães

 

Bodas de Ouro de José Alfredo e Evangelina, em 1965

 

            Em 10 deste mês ocorre o transcurso do centenário de nascimento de um dos maiores e venerandos vultos da história do sul de Minas, que foi o benemérito Comendador José Alfredo Gomes,conhecido na intimidade de seus parentes e amigos por Zequinha Gomes.

            Foi notavelmente grandiosa a múltipla trajetória desse nobre e honrado obreiro do Bem. Além do seu devotamento à Família, que foi exemplaríssimo, e da sua inatacável probidade no desempenho de suas atividades profissionais como agricultor e industrial, o Comendador José Alfredo Gomes teve a sua vida esplendidamente assinalada por uma tríplice atuação sobremaneira alterosa e edificante, -na cultura, na filantropia e na política, atestado inequívoco de seu talento e de sua operosidade evidenciada durante o quase um século de sua valiosa existência.

            Tinha apenas 12 anos de idade quando adotou o então revolucionário processo de plantar arroz por meio de "matraca", e, com seu irmão Sebastião, foi o pioneiro da plantação de um tipo de arroz americano na região, o rechoro, e cultivou com muita técnica, e industrializou, o algodão para abastecer a "Codorna", desta cidade.

            Nos domínios da cultura, colaborou assiduamente, com sua idoneidade e privilegiada memória, no periodismo brazopolense, contribuindo para a documentação da história da cidade que lhe serviu de berço e na qual residia, e, como Brazópolis, a antiga São Caetano da Vargem Grande, foi um dos distritos de Itajubá, e os realizadores de lá foram igualmente construtores de Itajubá, os quais o provecto Comendador tão bem conhecia, sua cooperação para a história de nossa cidade foi igualmente preciosa, e muita coisa aprendemos em seus escritos. Zequinha Gomes tornou-se um dos destacados e acreditados historiadores do sul de Minas.

Aprendeu a ler aos 5 anos de idade. Seus professores foram conceituados mestres, trazidos de Campanha e do Rio de Janeiro por seu tio Francisco Braz Pereira Gomes. (pai de Wenceslau Braz). Tornou-se, desde a adolescência, um grande admirador de obras literárias e de conhecimentos diversos, e muito logo organizou uma boa biblioteca, robustecendo com ela sua cultura. Nas noites de "Hora de Arte" da sua Brazópolis, em muitas ocasiões a platéia o aplaudiu na declamação de poesias. Até aos 90 anos sua bela e educada voz era ouvida nas missas da matriz de São Caetano. Escrevia sempre, e dizia que a pena era sua enxada, pois sempre lançou mão dela para o bem social, em favor da justiça e dos humildes, e pelo progresso de sua comunidade.

Foi redator de "O Imparcial," e com amigos fundou, dirigiu. e redigiu o "Em Guarda",jornal de defesa do ideal político da UDN. Colaborou em "O Brazópolis". Jornalista nato, principiou a carreira na Imprensa como tipógrafo. Como todo bom cultor da arte, também gostava do teatro, chegando a integrar, aqui em Itajubá, um grupo de amadores dirigido pelo famoso dramatólogo Santos Lima, que levava ao palco do Santa Cecília suas aplaudidas peças. Correspondia-se José Alfredo Gomes com festejados poetas do Rio de Janeiro e com eles trocava poesias, frutos de suas inspirações. Foi muito elogiado por Emílio de Menezes pela tradução que fez de um poema em francês.

E como um contribuinte da cultura, cumpre que ainda se saliente o ardoroso educador que foi José Alfredo Gomes. Pôs-se à frente da Sociedade Protetora da Instrução, que tornou em realidade a Escola Doméstica Nossa Senhora Aparecida, para moças, nos moldes das escolas congêneres da Bélgica, e o Ginásio Brazópolis. Nas justificadas homenagens prestadas à memória do sempre lembrado brasopolense na Assembléia Legislativa do Estado, o Deputado Euclides Cintra lembra a fundação da Faculdade "Monsenhor Dutra",que seria a primeira escola de curso superior de Brazópolis, pela qual tanto lutou o homenageado, tentativas infelizmente malogradas.

O Comendador José Alfredo Gomes tinha a alma sempre aberta e voltada para a caridade. Cristão convicto e irrepreensível, muito fez pelos necessitados. Foi um dos fundadores do Asilo "D. Maria Adelaide" para órfãs e velhos desamparados, do qual foi presidente durante mais de 30 anos. Incansável vicentino, muitas vezes, de sacola na mão, ia.pedir auxílio para os desvalidos. E fez doação de um terreno para as Conferências Vicentinas. Herdeiro da grande área do loteamento "Rennó Júnior" .(homenagem ao proprietário anterior daquelas.terras, Antônio José Rennó Júnior, que ali tinha sua chácara), doou quase todo esse patrimônio para a Prefeitura de Itajubá, para que ali se construíssem obras em benefício do povo e.das crianças, tal como um espaçoso parque e um Grupo Escolar, e se abrissem novas ruas e avenidas, com nomes, assim sugeria o doador,de topônimos primitivos das localidades vizinhas que integraram o municípío de Itajubá: rua Rua Conquibus, rua Vargem Grande, Rua Capituva, etc. '

Ao notável benfeitor de Brazópolis e de IItajubá foi conferida a honrozíssima Grã-Cruz da Ordem dos Bandeirantes, no grau de Grande Oficial, Comenda esta que poucos cidadãos podem ter o justo orgulho de ostentar, das mãos do Vice-Presidente da República Aureliano Chaves, recebeu ainda a Medalha dos Inconfidentes, prêmio à sua virtude, às suas atividades culturais e méritos cívicos.

Na política, foi José Alfredo Gomes o 1°Prefeito de Brazópolis após a Revolução de 1930 (posse em 01-01-1931) e prefeito de Pouso Alto.

Nasceu ele em São Caetano da Vargem Grande (hoje Brazópolis) em 10 de dezembro de 1884. Faleceu em 9 de junho de 1980, ainda lúcido, sempre atualizado com os acontecimentos políticos, o preço do gado, do café, etc. Era filho de Pedro Gomes (irmão do Coronel Francisco Braz Pereira Gomes), primo, pois, do ex-presidente Wenceslau Brás. Sua mãe foi D. Ana. Inácia de 01lvelra. Casou-se em 15 de junho de 1916 com D. Evangelina Gomes Rennó, já falecida há 11 anos, filha de Antônio José Rennó Júnior e de D. Júlia Pereira Gomes Rennó .

Foram os seguintes os filhos do Comendador José Alfredo Gomes: ,Dr. Mário Rennó Gomes, engenheiro formado por Ouro Preto, Professor Emérito da Faculdade de Engenharia de Belo Horizonte, casado com D. Clarice Pereira Rosa Gomes (6 filhos e 12 netos); Dr. Lúcio Rennó Gomes, engenheiro por Ouro Preto, ex-Professor da EFEI, falecido em 14-04-65, casado com D. Eneida Spolzino Gomes (2 filhos e 2 netos); D. Maria: Helena Gomes Lisboa, viúva de Antônio Magalhães Lisboa" residente em ltajubá (7 filhos e 12 netos); D. Ana Júlia Gomes de Mendonça, :casada com o Dr. José Vieira de Mendonça Sobrinho, engenheiro pela EFEI e ex-Diretor da CEMIG (7 filhos e 1 neto); e D. Cacília Rennó Gomes Landgraf, Casada com o Dr. Cinésio Landgraf, engenheiro pela EFEI, industrial em São Paulo(2 filhos).

Irmãos de José Alfredo Gomes:

Ainda vivos ,Ignácio Leão Gomes"-(ex-funcionário do Banco do Brasil e do Banco de Itajubá, casado com D. Benedita Bastemberg Gomes, residentes no Rio), Emilia Gomes (residente em Brazópolis, 92 anos, solteira), e Adeodato Gomes (residente também em Brazópolis, solteiro).

Falecidos:

·                    Sebastião Gomes (casado com Lídia Barros Pereira Gomes, que por muitos anos residiu nesta cidade, e são os pais das Professoras Eulália Barros Gomes e Cora Gomes Wood, ambas Diretoras da Escola Estadual "Antônio Salomon"),

·                    Manuel Ivo Gomes (casado com D. Maria Carvalhal Gomes, ex-Gerente do Banco de ltajubá em São Lourenço),

·                     Pedro Nestor Gomes (casado com Maria Benedita Nogueira Gomes),

·                    Maria José Gomes (falecida solteira aos 90 anos) e

·                    Cecília Gomes (falecida solteira.),

 

 

 

Armelin Guimarães é um historiador de Itajubá