Descendentes de Tonico Rennó

Tonico Rennó (Antonio José Rennó Junior) é um personagem importante na minha família. Ele teve duas filhas (Evangelina e Olindina) mas seu sobrenome vem sendo mantido por vários de seus bisnetos. Temos uma razoável genealogia dos Rennó, desde a chegada de Johann, seu avô,  até a quinta geração nascida no Brasil, que é a minha.

Tonico Rennó foi um homem rico (por herança de seu pai) e casou-se com uma irmã de Wenceslau Braz (minha bisavó Julia).  Nascido em Itajubá em 1863, após o casamento em 10/08/1887 foi morar em Brazópolis, tornando-se sócio de Francisco Braz em casa comercial.

 Julinha ainda não tinha feito 15 anos quando casou-se com Tonico, que tinha 24. Na véspera do casamento, o pessoal da cozinha estava enchendo travesseiros com paina e Julinha brincava de soprar fiapos de paina sobre a lamparina, só para vê-las queimar-se no ar. O pai, entrando na cozinha e vendo a cena disse: "Ó, na véspera do casamento fazer uma arte dessa, parece criança!" Julinha contava aos filhos, anos depois, que pensou, mas não disse   "não estou querendo casar agora mesmo!".

A crônica familiar relata o famoso caso do par de sandálias de veludo dado por Tonico para Julinha. Os sapatinhos foram disputados em leilão, pelo Tonico.  Disputado também por outra pessoa, o valor do lance foi subindo e Tonico acabou por desistir. Mas o contendor era seu próprio pai, que lhe deu o sapatinho dizendo que o filho  não tinha cacife para pagar por ele.  Essas sandálias ainda estão (2002) em ótimo estado na casa  de sua neta Maria Antonia, em Itajubá. Lina Maria, uma de suas bisnetas, escreveu uma bela poesia sobre esse presente .

O casamento foi de arromba. A festa  durou vários dias e incluiu libertações de escravos, como conta a notícia do casamento , publicada no jornal A Verdade, ano 2 (1887) n.24, de Itajubá.

Consta que a Julinha, de vergonha, escondeu a primeira gravidez e costurava roupas de nenê escondida. Um dia, quando alguém entrou de repente no quarto, ela jogou a roupa que fazia pela janela. Os escravos da família, descobrindo a roupinha na boca duma vaca que a mastigava, descobriram  o segredo da Julinha.

Tonico construiu em 1896 a casa da praça Getúlio Vargas, em Brasópolis, onde passei tantas férias de minha infância. Dizem que ele esperou um ano para entrar na casa, de medo dela cair. A grade na frente da casa foi construída posteriormente e tem a data 1904. Construiu também uma casa em Itajubá, demolida em 2.000. O prédio construído naquele terreno leva seu nome, Rennó Jr.

A fazenda do Morro Grande, em Itajubá, foi herança do coronel Rennó, mas a fazenda da Lage ele mesmo comprou.

As Bodas de Ouro de Tonico e Julinha, em 1937, também foram uma grande festa, descrita no jornal . O tal sapatinho é ali citado. Maria Helena Rennó Gomes Lisboa, sua neta, lembra do Wenceslau levando-a pelo braço a desfilar pela casa usando o tal sapatinho, por ocasião das Bodas. A foto de família tirada naquela ocasião é memorável, incluindo o casal, suas duas filhas, seus genros e seus 11 netos.

Ela tocava piano, mas não muitas canções. Assim, ela ficava desgostosa com suas filhas quando elas se adiantavam e tocavam, para visitas, as poucas que ela conhecia. "Le Lac de Come" era uma das prediletas. 

Cecília, sua neta, frequentava sua casa em Itajubá, por volta de 1950, e conta que a avó era muito discreta: vinha arrastando os pés pelo corredor, para não surpreender a neta namorando na sala.

Ele faleceu em 1940, aos 77 anos, de câncer na próstata, em Itajubá.
Ela faleceu em 1959, aos 87 anos, em Itajubá, de "nó nas tripas". 

Em 1968, com 14 anos, participei de um acontecimento que hoje me dá pena: a limpeza de um "quarto de despejo", em Brazópolis, quando puzemos fora muitas fotos e papelada que estavam numa caixa, provavelmente coisas dele. Da limpeza guardei alguns documentos que achei interessantes:
exemplar de O Independente, de 2 de fevereiro de 1887
exemplar do jornal O Oitenta e Nove, de 9 de março de 1894
exemplar do pamphleto "A affronta", de 1893, assinada como A voz de Tiradentes
exemplar do Manifesto Político do Dr. Fausto Dias Ferraz, de 1903
carta de Julinha para Tonico, de 17/03/1894
carta de Tonico para Julinha, de 15/08/1904
carta de Francisco Bráz para Pedro R. Rosa, de 27 de outubro de 1912
carta do Wenceslau para Julinha, de 25 de 5 de 1949

O sobrenome Rennó surge em 1820, quando Johann Rönnow foi batizado no Brazil como João Rennó de França. Johann, nascido em Ludwigslust, era médico do exército prussiano em luta contra Napoleão e, logo após o fim das guerras napoleônicas, veio para o Curitiba em 1817. Lá casou-se e, a convite do cunhado, mudou-se para Itajubá. Entre seus filhos está Antonio José Rennó, o Coronel Rennó que dá nome à rua da matriz de Itajubá. Tonico Rennó é o Antonio José Rennó Jr. Minha avó casou-se com José Alfredo Gomes mas seus filhos Mário e Lúcio ficaram conhecidos pelo sobrenome Rennó. O Prof. Mário Rennó foi professor de metalurgia extrativa dos metais não-ferrosos na Universidade Federal de Minas Gerais e Prof. Lúcio Rennó foi professor da Escola Federal de Engenharia de Itajubá). Vários dos filhos de Mário também carregaram o Rennó, como meus primos Marcelo e Rosangela Rennó. A família Rennó adquiriu notoriedade nacional na década de 90, época em que Joel Rennó foi presidente da Petrobrás e Rosangela Rennó tornou-se artista plástica internacionalmente reconhecida. Na verdade, já nos anos 80 o nome tornou-se conhecido pelo letrista Carlos Rennó.

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